quarta-feira, 27 de junho de 2007

Folha em branco

Se ao papel não te vem a poesia
Não se diga que está mal
Nem que tudo está perdido
Nem que a fonte está vazia
Nem que é sempre tudo igual
De repente é nostalgia
Ou quem sabe, anoitecer
Pra que a gente durma um pouco
Pra que gente possa ter
No descanso, um lindo sonho
E no desfecho uma certeza
De que mesmo longa a noite
Haverá um amanhecer
E ao chegar o novo dia
Folha em branco em mesa fria
Coração é poesia

terça-feira, 26 de junho de 2007

Ver-o-Peso de te ver


Ah, quanto pesa o peso de te ver

Na alegria das manhãs que a feira faz viver

Passageiros, viajantes que te querem conhecer

Na tristeza das histórias de teus filhos juvenis

Habitando tuas sarjetas, papelões e chafariz

Tens os frutos, tens os peixes, que a madre sempre quis

Dar aqueles que do parto dessa vida fez nascer

Esse fruto da Amazônia que famílias faz manter

Nunca alcança a velha mesa da mãe pobre e infeliz

Ah, quanto pesa.


Ah, quanto pesa o peso de te ver

Tu que és belo entre os retratos dessa pátria varonil

Contador de tuas histórias, dentre tantas, tantas de mil

Tens do boto, curupira, do turista, do malandro que sumiu

Muitos sabem tuas dores noutros cantos do Brasil

Mas se faz a vista grossa, ninguém sabe, ninguém viu

Tu não vales quanto pesa, porque pesas muito mais

Pesas mais que um bom ângulo, pesas mais que teus vitrais

Ah, quanto pesa

Ah, quanto pesa o peso de te ver

Tua imagem verdadeira, só os sensíveis podem ver

Clama, agora Ver-O-Peso, diz das dores que tu tens

Dobra agora os teus joelhos, diz tuas prece, teus améns

Chama logo Jesus Cristo, com certeza ele já vem

Entrega a ele todo peso, pois fará todos saber

O quanto é leve ver-o-peso de te ver

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O Pequeno deus

Todo dia encontro um pequeno deus. Há muitos por aí. Eles têm se multiplicado rapidamente. A cada dia, pequenos deuses são mais comuns. Eles estão nos jornais, nas repartições, nas igrejas, nas escolas, nas ruas, nos bares , nos lares, por todos os lugares. Eles estão disfarçados de políticos, de filhos, de pais, de sacerdotes, de amigos, de escravos, de oprimidos, de rico, de pobre, de ouro ou de cobre, de esposo, de esposa, na carteira ou na lousa, são cantores e atores, juízes e malfeitores. Enfim, a mais bela face, pode ser um disfarce de um pequeno deus.
A matéria prima para se fabricar um pequeno deus é o coração humano. Às vezes, basta uma gotinha da fórmula: dinheiro + poder e ... pronto!! Adeus humanidade, nasce uma pequena "divindade". E como há muitos corações perdidos por aí, qualquer situação pode se transformar numa máquina de criar pequenos deuses.
Todo pequeno deus é um louco que se enxerga sábio. Porque se crê senhor de si. Por que se pensa senhor do espaço . Por isso, o pequeno deus não respeita espaços, pois acredita que "é" o dono do pedaço.Todo pequeno deus é alienado porque se tornou sua própria negação. Porque se fez tudo o que ele não é e o que nunca poderá ser.O pequeno deus se vê um eterno juiz e, por isso, sente-se no direito de decidir o tempo da paz, da existência, da felicidade ou mesmo da dor de quem ele julga ser mais frágil.
Todo pequeno deus é um deus frustrado, porque seu maior sonho é ser um GRANDE DEUS. Daqueles que criam coisas do nada, apenas com uma palavra, como num toque de mágica. Deus autônomo e livre. Que pode voar, virar cambalhotas, tocar as estrelas, contar anedotas, que gosta de arte, de belas canções, que sabe viver, sorrir, brincar e não tem problema de chorar quando deseja chorar. Que sabe administrar amor e justiça. Que não precisa prometer nada, mas por amor promete. Que não precisa provar nada, mas prova quando é necessário. Um Deus cuja maior virtude, não é apenas ter todo o poder, mas saber amar com esse poder todo. Um Deus que se fez homem, cheio de graça e verdade, pra ter a amizade, de homens, pequenos e grandes... inclusive de um pequeno deus que tiver a coragem de admitir que quer voltar a ser, simplesmente, homem.